Quanto tempo o mundo político aguenta a crescente pressão da rua?

Voto de confiança dá oxigênio a Grécia só até o fim do verão. O comentário é do jornalista Clovis Rossi em artigo no jornal Folha de S.Paulo, 22-06-2011. Eis o artigo. O premiê George Papandreou submeteu-se ontem a dois votos de confiança: perdeu na rua, em uma Atenas sublevada, mas ganhou no Parlamento. Vitória válida até o fim do verão europeu, em setembro, conforme se deduz inexoravelmente do calendário da crise na Grécia. Ficou assim: a confiança do Parlamento permite deduzir que, na semana que vem, será aprovado um segundo pacote de austeridade, bem mais rígido que o primeiro, de 2010. Se for assim, no dia 3, a União Europeia libera € 12 bilhões relativos ao primeiro programa de ajuda, o que permite ao país fechar as contas até o fim do verão. E só. Para continuar no jogo, terá que receber um segundo pacote de socorro, ainda mais gordo do que o primeiro (€ 120 bilhões x € 110 bilhões). Aí entra uma coleção de dificuldades, entre elas: 1 - A Alemanha, sem a qual não há pacote, só põe dinheiro se houver contribuição "voluntária", mas substancial, dos credores privados. Por que haverá "voluntários" para o segundo programa de socorro se o primeiro fez a dívida grega saltar de 142,8% do PIB para 157,7% agora? 2 - Quanto tempo o mundo político aguenta a crescente pressão da rua? O novo ajuste prevê brutal corte de empregos públicos. Se, antes dele, os eletricitários já provocaram apagões, a efervescência só pode aumentar -e assustar o Parlamento, no qual 35 dos 155 deputados do partido governante (o socialista) já manifestaram simpatia pelos "indignados" que não saem da praça Syntagma, o marco zero de Atenas.